Mário Sérgio Nascimento vive em situação de vulnerabilidade há anos
Quem passa pela Rua Caetano Moura, na Federação, se depara com mais um retrato da vulnerabilidade social em Salvador. Aos 47 anos, Mário Sérgio Nascimento transformou um ponto de ônibus, em frente à Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (FAUfba), em seu lar improvisado.
Lençóis estendidos em um varal formam as paredes do abrigo, enquanto o banco do ponto faz as vezes de cama, cadeira e mesa. Vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), Mário enfrenta dificuldades na fala, mas consegue se comunicar. Ele conta que nunca conheceu os pais e chegou a Salvador ainda criança.
Além do ponto em frente à faculdade, Mário às vezes monta seu pequeno acampamento próximo ao Alphaville. Para sobreviver, depende da solidariedade de quem passa. As roupas, alimentos e utensílios que utiliza são frutos de doações. “As pessoas me dão as coisas”, disse à reportagem, balançando a cabeça ao sinalizar que não busca ajuda dos órgãos públicos.
“É triste e cada vez mais comum esse tipo de situação na cidade. Só mostra como os problemas sociais e econômicos estão afetando mais pessoas a cada ano”, desabafa uma estudante da Ufba, que passa diariamente pela região.
Outra estudante relata sentir medo quando percebe a presença de Mário no ponto, sobretudo pelo contexto de insegurança urbana: “Eu nunca falei com ele. Quando vejo que ele tá lá, fico mais distante porque esse ponto é bem deserto”.
Números da população em situação de rua em Salvador
Segundo o último censo da Prefeitura de Salvador, divulgado em 2023, há 5.130 pessoas em situação de rua na capital. Desses, 3.949 são homens, 975 mulheres, 103 pessoas trans ou travestis e 103 não responderam.
O levantamento também revelou que 3.265 se declaram pretos, 1.513 pardos, 208 brancos, 33 indígenas e 15 amarelos. A maioria (4.175) são adultos entre 18 e 59 anos, além de 479 idosos, 275 crianças e 98 adolescentes.
As principais causas que levaram essas pessoas às ruas são: busca por sustento (28,3%), maus-tratos familiares (26%), uso de substâncias psicoativas (10,3%), desabrigo (9,1%) e morte de algum familiar (3,6%).
Atuação da prefeitura
A Secretaria de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre) informou que atua com equipes do Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas), de segunda a domingo, das 7h às 22h, oferecendo encaminhamentos e serviços. Segundo o secretário Júnior Magalhães, “o fenômeno da população em situação de rua é complexo e envolve, além da assistência social, ações nas áreas de saúde, trabalho, moradia e fortalecimento dos vínculos familiares”.
A prefeitura também dispõe do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua, além de 19 Unidades de Acolhimento Institucional (UAI).