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Última seresta: adeus a Nira Guerreira tem arrocha e fãs inconsoláveis

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(Foto: Arisson Marinho/CORREIO)

Em uma noite no antigo bar Língua de Prata, em Itapuã, o operador de fotocopiadora Jorge dos Santos, hoje com 40 anos, tinha à mesa apenas duas companhias: um copo de whisky e um maço de cigarros. Até que, do palco, Nira Guerreira começou a cantar um dos seus maiores sucessos: A Culpa é Sua. Jorge então avistou Roberta do Carmo, hoje com 39, e a convidou para arrochar no meio do salão. Virou casamento.

Nesta terça-feira (10), no Cemitério Bosque da Paz, em Nova Brasília, Jorge e Roberta eram dois dos anônimos a entrar na fila que se formou para se aproximar do corpo da cantora. “Aquela noite foi muito marcante. Viramos fãs dela e nos casamos um ano depois. Nossa paixão por Nira só aumentou”, contou Roberto, que se emocionou quando a multidão puxou A Culpa é Sua no momento em que o caixão era colocado na sepultura.

Entre os fãs, amigos e familiares que encheram o cemitério para se despedir da Rainha do Arrocha, certamente havia muitos dos personagens que estavam nas letras de suas músicas e, consequentemente, em seus shows. Na sua última seresta, até o garçom que tanto “encheu o saco para fechar o bar” deveria estar ali. Quem sabe chegou em um dos três ônibus cedidos pela prefeitura para levar admiradores da Guerreira.

Teniura Menezes da Silva, que tinha 57 anos, iniciou a carreira cantando serestas nas noites de Salvador, no início dos anos 2000. A casa de shows Marechal.Com, no bairro de Marechal Rondon, começou a lotar nas noites em que ela era a atração. Josué Assis, hoje produtor musical de Pablo, teria sido o primeiro a enxergar o seu talento. Ontem, como que retribuindo a projeção que Nira lhe deu, Josué organizava todo o sepultamento e, muito abalado, sequer conseguiu nos dar entrevista.

Guitarrista e um dos primeiros músicos de Nira, Eurico Freire, o Lico Bass, 45 anos, diz que ela cantava com a mesma vontade seja lá qual fosse o público. “O show podia ter uma pessoa e ela cantava como se fosse um milhão”, lembra Lico. “Foram cinco anos no palco com ela e nenhum aborrecimento. Tenho orgulho de ter convivido com uma pessoa amável como ela”, revela. Nira, confirmaram os diversos músicos que estavam no Bosque da Paz, foi não só a rainha, mas a precursora do arrocha. Teria surgido antes de nomes como Pablo e Silvano Sales. Ausentes no último adeus à rainha, Pablo e Silvano deixaram mensagens em redes sociais.

“Pablo veio no embalo dela. Silvano também”, afirmou o tecladista Adailton Gomes, o Júnior Fofão, 39 anos. Fofão, aliás, acompanhou Nira do primeiro ao último show. Integrante da banda desde o Marechal.Com, viu Nira virar rainha nas noites no Língua, no Megashow do Retiro e no espaço Vista Alegre, em Cajazeiras. Em fevereiro deste ano, comandou os teclados no último show oficial da cantora. “Nem lembro mais onde foi. Estou tão atordoado. Eu sei é que, no auge, a gente fazia três shows na noite”, recordou Fofão.

O sepultamento do corpo da rainha virou um encontro forçado de artistas. Quantas lembranças… Alguém citou o show inesquecível de Nira Guerreira, Silvano Sales e Lairton e Seus Teclados em uma casa de shows de Águas Claras. E no Carnaval? O arrocha estourou de fato, acredita o guitarrista Lico, no trio elétrico que reuniu Nira Guerreira, Asas Livres, Pablo e Márcio Moreno. “Aquele carnaval fez o arrocha estourar nacionalmente”.

Surge Nara Costa. Com uma nova estrela do arrocha estourada, vem a dúvida. Quem é a verdadeira rainha? A rivalidade, ao menos pelo lado de Nira, fica entre os fãs. “Ela não ligava muito para isso. Até tentou se aproximar de Nara, mas não sentia que era recíproco. O que sei é que, na noite que Nira abriu para o show de Nara, o povo lá embaixo disse que a rainha mesmo era Nira”, lembra, sorrindo, um músico que preferiu não se identificar. Nara, como Pablo e Silvano, também escreveu uma mensagem de pesar nas redes sociais.

Em um universo de duas rainhas e com tantos arrocheiros que vieram depois de Nira, o fato é que muitos fãs nunca a abandonaram. Tanto que, entre os inconsoláveis da última seresta de Nira estava Emerson Brandão, o Chaveirinho, criador dos fãs clubes 100% Nira Guerreira e Sempre Demais. Em 2008, Chaveirinho começou a trabalhar como produtor da cantora que idolatrava. Hoje, tenta emplacar a carreira de cantor e compositor. Chaveirinho do Arrocha era mais um que mal conseguia falar.

Nira também foi incentivadora da curiosa ligação entre o arrocha e uma iguaria baiana: o cozido. A mistura de carnes e verduras com pirão e molho lambão chegou a embalar noites românticas com Nira Guerreira em Colina Azul e Pau da Lima, entre outros bairros. Assim, como a primeira rainha do arrocha e produtora de cozidos famosos, Nira criou sozinha três filhos: duas mulheres e um homem, que lhe deram sete netos. Em 2015, descobriu que tinha câncer de mama. Fez uma cirurgia e foi dada como curada.

Há um mês, o câncer voltou e atingiu outros órgãos, inclusive o pulmão. Morreu na terça-feira, no Hospital Aristides Maltez, em Brotas. Após a homenagem em que todos cantaram A Culpa é Sua, alguém discursou: “O céu está em festa! As trombetas dos anjos vão receber a nossa rainha Nira Guerreira”. Quem sabe os anjos saibam tocar trombetas em ritmo de arrocha.

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